quinta-feira, 14 de agosto de 2014

"Algum tempo atrás, talvez uns dias, eu era uma moça caminhando por um mundo de cores, com formas claras e tangíveis. Tudo era misterioso e havia algo oculto; adivinhar-lhe a natureza era um jogo para mim.Se você soubesse como é terrível obter o conhecimento de repente - como um relâmpago iluminado a Terra! Agora, vivo num planeta dolorido, transparente como gelo. É como se houvesse aprendido tudo de uma vez, numa questão de segundos. Minhas amigas e colegas tornaram-se mulheres lentamente. Eu envelheci em instantes e agora tudo está embotado e plano. Sei que não há nada escondido; se houvesse, eu veria."

[Frida Kahlo]

Sigo sem caminho ou direção aparente. Lembro do Cherishire dizendo à Alice que quando não se sabe aonde ir, qualquer direção serve. Só que eu sempre achei que sabia exatamente para onde estava indo. Agora não sei mais. É como se todas as placas de sinalização tivessem sido atiradas para longe no meio desse vendaval. Há árvores retorcidas e caídas na beira da estrada. O caminho é tortuoso. Queria avançar, mas, para onde eu já nem sei e o regresso é impossível. Perdi dos olhos os restos de sol e das mãos as esperanças do amanhã embaladas pra viagem. O céu sem nuvens não traz sombra de descanso. A cavidade onde deveria haver um coração está vazia e  ecoa meus passos perdidos. E assim, não vejo pra onde vou. E avanço às cegas para uma realidade irreal e exasperante. Só o que vejo é o nada que tenho a frente. Sem montanhas. Sem velas. Sem mar virando a encosta. Sem pássaros no céu. Ou pôr-do-sol esperando. Fujo de mim, mesmo me tendo à mão. Perdida sempre entre o tudo que vai e o nada que vem. Toco o vazio que fica grudado à minha pele. Só o fim e nada mais.

Então, é isso a vida? Fazer do que não fizeram de nós? Ou do que fizeram e não quisemos? Ou do que desejamos e nos foi vedado? É injusto. Porque nada pode ser feito para se voltar atrás. Não existe ensaio. É apenas uma vez... é apenas um caminho, enquanto ficamos saudosos de todos os outros por qual não caminhamos. É só essa vez, única e exclusiva. Fazemos elucubrações teóricas sobre a vida, sobre o tempo, sobre o amor. E depois o tempo passa. Sem nem termos tempo de dizer “já foi”. O tempo para nada nos serve. E o amor que nos despedaça, que some como um mágico de quinta categoria com todas as placas e planos. Que tira a rede do salto e nos deixa sozinha sangrando. Ah, o amor? Esse não tem sentido algum, então, ele não pode dá sentido a vida. Aliás, eu nem sei o que é a vida.

Perdi a rota para o País das Maravilhas. Imaginei tudo e no meio do sonho fiquei fora dele no último instante. Imaginei tudo que quis e tudo me faltou. Faltou a tua mão no final da minha mão para me erguer e quem sabe mostrar o caminho... mesmo ele sendo uma rota de colisão com tudo que eu era. Agora, quando nada tenho, só quero ser sincera, mesmo me contradizendo a cada momento, só quero calçar os pés com o universo e arranhar o mundo... e no fim a única coisa que arranho é minha alma já mutilada. Não faz diferença. Eu tenho tantas cicatrizes... ganhei-as por tentar a todo custo remover blocos de metal perene. Eles nem se moveram. Eles nem sentiram meu esforço.

Peregrinei. Mas, nada alcancei. Depois de tanto andar, depois de tanto cansaço e sol na cara, não encontrei resposta alguma que me satisfaça. Talvez, não exista mesmo resposta. Talvez, eu nem exista. Talvez, eu seja só uma abstração de pensamento algum, de uma coisa indefinida pelo Grande Nada.

Talvez eu seja pura metafísica. E se esse Eu não existe, essa dor também não existe. E tudo ficará bem. Pouco mais há a dizer. O coelho está atrasado. Tento acompanhá-lo. Largo os últimos resíduos de memória e esse resto de sorriso(fragmento de estrela tentando ainda brilhar, mas sendo sufocado pela escuridão que cai), o coração ausente a pressentir todas as catástrofes do mundo.  Assim vou pelo caminho, sôfrega e cegamente.

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