quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Ou
Charlie Brown e esse tal do amor




"Nada como um amor não correspondido pra tirar todo o sabor de um sanduíche de manteiga de amendoim..." Minha frases favoritas das tirinhas Peanuts" criada por Charles Schulz. É dita por Chalie Brown um menino melancólico e delicado que beira ao pessimismo. Ele é meu personagem favorito da tirinha, qualquer semelhança não é mera coincidência. Porém, todos os personagens possuem um tom de humanidade incrível, é uma fábula sobre a vida cotidiana e o que vem pela frente. Pode ser até nostálgico, mas é de uma doçura fadigante. Não se pode ficar imune as histórias e frases dos personagens.
Mas, de todas as criações de Schulz, nenhuma presença é tão acentuada quanto a garotinha ruiva, símbolo maior de todos os amores idílicos, oníricos e nunca concretizados.

Pobre Charlie Brown. Sentimos compaixão por ele, porque ele representa todas as nossas frustrações, inseguranças e fracassos na vida. O que dizer de alguém que não recebeu um cartão sequer no Dia dos Namorados, jamais conseguiu fazer voar uma pipa porque todas enganchavam em alguma árvore, nunca ganhou um jogo de beisebol e, principalmente, jamais teve coragem para falar com a garotinha ruiva e confessar o seu amor? Talvez nunca ter confessado seu amor, Minduium, foi a sua mais alta façanha, você ainda tem a ilusão de pensar que poderia ter sido diferente, nunca é... amores platônicos não foram feitos pra dá certo. Quando se é tão criança assim, não se deveria sofrer tanto. Perceba que a menininha ruiva só é uma metáfora desse amor oprimido que perseguimos na mais tenra juventude e que faria qualquer coisa para realizar como promessa-mor de felicidade. Aquele amor que jamais terá rugas, aquela pessoa que você não consegue ter raiva, a pessoa construída e amada que nunca deixa saldo negativo, mesmo quando o exemplar real atravessa a rua ou te destrói o coração com palavras e acusações ou com a mais sutil indiferença, a pessoa que permanecerá para sempre imaculada e perfeita em nossos sonhos platônicos.

"Mas o amor não existe para fazer a gente feliz?" Nem sempre, Charlie, nem sempre. Aliás, quase nunca. Amar é ficar vulnerável e vulnerabilidade não é bom em nenhum aspecto para humanos. Que diga as angústias caladas e os sangramentos invisíveis. Que diga a dor socada no peito e o sorriso montado. Que diga os outros personagens que também sofrem com amores não-correspondidos. Sally ama Linus que ama sua professora; Lucy ama Schroeder que ama Beethoven; Patty Pimentinha ama Charlie Brown que ama a garotinha ruiva. Não nos lembra a quadrilha do Drummond? Sim,  a turma do Snoop ama infrutiferamente. Mas, quem disse que os amores que não vingaram são inúteis? São as coisas mais úteis já inventadas, programadas para todo ser humano, tão útil quanto seus anticorpos e glóbulos brancos.

Rimos com as estórias dos personagens. Mas, é um sorriso meio rasgado e embalado com um tristeza inocente e calminha, uma tristeza de nos reconhecermos Charlie Brown em algum momento da vida.

Mas, sabe “Charlie Brown, de todos os Charlie Browns do mundo, você é o mais Charlie Brown de todos!” Porque você“substitui uma preocupação por outra”, “só precisa suportar um dia por vez.” E sabe que “no livro da vida, as respostas não estão na parte de trás” e descobriu a receita para a felicidade, “Quando a sua vida estiver arruinada, você deve passar uma tarde inteira debaixo de uma árvore.”. Mas, sabe de uma coisa, Chalie? Como diria sua sábia amiga Lucy Van Pelt “Tudo que você realmente precisa é amor, e um pouco de chocolate”.

Mesmo que o amor machuque e chocolate dê espinhas e níveis altos de glicose.
Mas, você é criança, Charlie, não se preocupe tanto com isso.

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