sábado, 9 de agosto de 2014

Amor, amore...

Como diria Guimarães Rosa:
amor vem de amor,
vem de longe,
vem no escuro,
brota que nem mato
que dispensa cuidado
e cresce com a mais remota chuva,
vem de dentro e fundo e com urgência,
amor vem de amor,
que não cabe,
mas assim mesmo a gente guarda,
a gente empurra,
dobra,
faz força,
deixa amassado num canto,
no peito,
no escuro,
dentro,
ou larga pegando sereno,
amor vem de amor,
vem do pedaço mais feio,
do mais sem palavra,
do triste,
vem de mãos estendidas,
é tecido desfeito pelo tempo,
amarelado pelo tempo,
pelo cheiro da gaveta fechada,
pelo riscado do sol na madeira,
amor vem de amor,
vem de coisa que arrebata,
vira chão,
terra,
cisco,
resto,
rastro,
coisa para sempre varrida,
é delicadeza,
viva,
forte,
violenta,
que muitas vezes faz doer,
partir,
deixar caído,
amor vem de amor,
e dói bonito,
cheio de sabor,
de cor,
de amor mesmo,
puro amor...

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