quinta-feira, 14 de agosto de 2014


''Entre ele e ela há uma sintonia... comunicação insólita, frequência desconhecida. Admira-a como escritora e mais ainda como pessoa - ela que deixa sua vida tão mais descontraída e doce. Desnecessário dizer dela, que é inteligente - mas diria. É escusado dizer dela que é merecedora de que se goste e admire, mas se não o fez foi por economia. Admira como ela se permite buscar o que é, e quem disse que não vale errar ou mudar o curso do rio? Pessoa dada à pessoas, algumas efêmeras... mas sempre intensas. Sua amiga, companheira de horas e vários textos... e de alguns afetos, é fato... não se olharam nos olhos para dizer verdades como fazem os amigos (uma pena). Mas de suas verdades, no entanto, pensa até que ela esteja farta, pois cenário do filme deles é sinceridade. Às vezes ela cai em crise - necessário e muito a quem se reedita... às vezes ele lhe tem cuidado, apesar da quase mesma idade... às vezes ela o põe doido e às vezes o enlouquece de rir. Pensa que se fosse um quadro, pinceladas de carinho lhe daria se lhe fizesse o retrato. Ela é... uma coleção rica de referências.
Ele chegou como quem vem pra ficar pouco tempo, com muito silêncio e versos mudos. Era um mistério, notou. Notou e tão logo se propôs a ser tela, deixando que ele se desvendasse por si. Tantas cores não habituais foram pintadas, tanta poesia antes não escrita preencheu páginas em branco. Foi assim que apareceram. Ele é aquele menino que ela conheceu nos primeiros dias de escola, com o qual dividia o lápis de cor e o lanche. E ele carregava sua mochila, quando estava pesada demais. Carrega. Onde se encontraram? Se (re)conheceram dos sonhos. Já dividiram pesadelos, também. Já se dividiram, mas somam-se muito mais. O pouco tempo, hoje, é infinitude. Ele carrega consigo qualquer coisa que tranquiliza as horas dela. É feito de coração. Cor, ação, olhinhos de cor desmaiada, um sorriso doce, uma palavra exata, uma besteira bem dita pra fazer doer-lhe a barriga de gargalhar. Ela já quis carregá-lo no bolso. Já quis pendurá-lo de cabeça pra baixo, também. Sobre ele, diria todas as palavras mais lindas e sentidas.
"... e de repente olhaste uma flor sobre uma sepultura e disseste que gostavas tanto de amarelo e eu disse que amarelo era tão vida e sorriste compreendendo e eu sorri conseguindo e vimos uma margarida e nem sequer era primavera e disseste que margarida era amarelo e branco e eu disse que branco era paz e disseste que amarelo era desespero e dissemos quase juntos que margarida era então desespero cercado de paz por todos os lados."
Talvez por isso ela fique querendo desenhar todas as nuvens do céu, como forma de fazê-lo ler seus carinhos. Imagina seus olhos distantes admirando algo em comum, e faz moldura de amizade-maior enquanto escuta a melodia das músicas sem letra que ele lhe ensinou a sentir. No meio de todo o desespero de ser humano - demasiadamente, no caso dele -, ela sugere acenderem luzes com seus risos. Uma margarida no caminho. Amarelo, branco, e ele todo é azul. Por isso que sentam em cima de uma pedra e falam de coisas bobas ["Às vezes a gente pensa que está dizendo bobagem e está fazendo poesia".], com uma ingenuidade quase infantil. Se leem. E nessa hora ela pensa que quando já nem tiver nome, sua alma vai manifestar uma alegria envergonhada, por lembrar, caduca, que todos os gestos mais doces já couberam, um dia, numa só pessoa: ele.
"Alguém como poucos, não se encontra ‘dela’ por aí. Tem muito do que ele é e do que gostaria de ser. Pra entender tem que desbloquear o impossível e abandonar o resguardo pra regar as flores, nunca foi fácil, mas na cabeça dele, com os seus botões e seus dentes de leão, sabe, sente, precisa que as palavras não tomem forma. Poderia ser um rei, um palhaço, um pai, um professor, um mecânico, um cantor, um instrutor, poderia ser o que fosse que ela do seu lado diria: - É doce. Poderiam estar sentados um do lado do outro, por horas sem falar palavra alguma, é que por vezes é desnecessário falar, e ela sabe que estariam construindo, e estão sempre construindo lembranças. Cheiro de livro, gente e café . E então vidas folheadas e páginas relativas, fizeram-na ser quem é. "És eternamente responsável..."
Jaya
Uma das coisas mais doces que li esse ano!

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