segunda-feira, 24 de janeiro de 2011


Há certas cenas nessa vida que me deixam sem palavras. Elas nos pegam de surpresa, quietas e inevitáveis. Algumas ainda conseguem ser ricas em sentimentos, e nos ficamos sem fala por estarmos maravilhados com os fatos, como se eles fossem fogos de artifício refletindo no brilho dos nossos olhos. Uma das coisas mais fantásticas na vida é o fato de que certos assuntos podem chegar em qualquer momento para qualquer um.
Ontem, minha irmã chegou na sala gritando, e logo disse para mim:
“Um pássaro não acordou ainda!”.
Minha mãe havia dito a ela dias atrás que, antes do sol nascer, os pássaros cortam o céu com seu canto, e era isso que deixava nossos dias felizes. Minha irmã de apenas quatro anos acredita fielmente nisso, o que explica a sua preocupação com um certo pássaro que estava na grama do jardim da casa. Ao chegar no local, logo me dou conta de que o pássaro está morto, de modo que fiquei confuso sobre o que dizer para ela.
“Ele está dormindo, Manda”.
“Mas se ele não acorda, o dia não vai ser feliz”.
Fiquei alguns segundos em silêncio, apenas observando o pássaro.
“Ele está sozinho?” - ela perguntou sussurrando.
“Sim”.
“Vamos levar para casa”.
“Não, ele já vai voar”.
Consegui distrair um pouco sua atenção para o lado oposto do pássaro; tempo suficiente para que eu o pegasse e escondesse nas mãos, atrás das costas.
“Opa, ele voou”.
Ela olhou ao redor e depois para cima, onde viu vários outros pássaros voando.
“Ele está lá encima?”
“Ele pode ser qualquer desses que você está olhando.” - sorri
Ela não pareceu muito feliz com tudo aquilo.
“Por que ainda está triste, Amanda? Ele vai deixar o dia de todo mundo feliz agora”.
“Eu sei… mas eu queria ficar cuidando dele. Ele estava sozinho”.
“Ele está com os outros, você não viu?”
Ficamos um pouco em silêncio, olhando para o céu, e por alguns instantes eu fiquei mesmo procurando o pássaro, esquecendo completamente que ele estava em minha própria mão, e de que ele não mais tinha vida.
“Do que adianta fazer o dia de todo mundo feliz se é o meu que vai ficar triste?”
Foi a última coisa que ela disse. Bem, eu não quis dizer mais nada que atrapalhasse esse momento.

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